Nobel de Literatura 2020

Semana que vem o Prêmio Nobel de Literatura será entregue. Gostaria de fazer uma lista de nomes de possíveis indicados/vencedores, e breves comentários sobre cada um deles.

Anne Carson – Só uma questão de tempo até ganhar. Pode ser este ano, ano que vem…

Ismail Kadare/Adonis – Esses há tanto tempo são considerados que provavelmente não ganham mais. Além do que raramente um vencedor não possui uma obra significativa mais ou menos recente (últimos cinco anos), e esses dois faz tempo que não produzem nada de peso. Mas mereceriam.

Ngugi wa Thiong´o – Similar ao caso passado, com a diferença que a última obra de valor escrita por ele foi publicada na década de 1960 (Um grão de trigo). Sejamos simpáticos: década de 1970 (Pétalas de sangue). Não me parece que o Nobel vai querer seu nome associado a um autor que defende que crianças devem ser armadas (se duvida, leia Matigari). Além do mais, há outro autor africano superior:

Nuruddin Farah – Se for para um africano ganhar, deve ser ele.

Ko Un – Além de supervalorizado (as poesias dele nem são tão incríveis assim, é mais quantidade do que qualidade), é um predador sexual e não irá ganhar o Nobel.

Milan Kundera – Outro que também não escreve uma obra de peso faz décadas.

Jon Fosse – Dramaturgo – antigamente se falava muito dele, anda esquecido – mas depois de Handke, creio que não.

DeLillo, Pynchon, Oates, Robinson, [insira sobrenome de escritor estadunidense aqui] – Esperamos que não. Só são mencionados por serem estadunidenses.

Lobo Antunes, Magris, Nooteboom, Marias, [insira sobrenome de escritor homem idoso branco do oeste europeu aqui] – Sim, porque tudo que precisamos é outro escritor branco do oeste europeu ganhando o prêmio Nobel.

Cartarescu, Krasznahorkai, Nádas, [insira nome de escritor homem ainda não idoso branco do leste europeu aqui] – Sim, porque tudo que precisamos é outro escritor branco do leste europeu ganhando o prêmio Nobel. Ano retrasado venceu Olga Tokarczuk, que supera qualquer outro desses e já está ótimo.

Lyudmila Ulitskaya – Mas se quiser um nome de alguém do leste europeu, é este aqui.

Murakami – Suas obras tem algo que merece o Nobel. E também tem algo que não merece o Nobel. Em seus romances mais recentes, creio que Murakami tendeu mais para a segunda opção, e que não ganhará. Se for pensar em algum@ autor@ oriental, prefiro:

Han Kang – Embora seja ainda jovem demais. Quem sabe daqui uns dez anos. (Já ouvi bastante o nome de Yoko Tawada; porém, de todos aqui, é a única que não li).

Maryse Kondé – O que li dela não me parece forte o bastante. Mas posso ter lido os livros errados.

Nelida Piñon – Só para constar um nome brasileiro. Mas não vai acontecer.

E é isso que me vem à cabeça agora.

[Vitória: Louise Glück. É um prêmio justo? Não sou um grande conhecedor da poesia atual para situá-la. Posso comparar com os poetas que citei acima. Adonis – acredito que ele seja superior. Carson – o nível é alto e muito próximo. Ko Un – Glück é superior. O que é mais chato é termos outro autor de língua inglesa…]

Nobel parte 2

A Ladbrokes, que é a casa de apostas que geralmente acerta algumas horas antes o nome do vencedor, colocou alguns nomes novos nas apostas, e vou comentar sobre eles. Daquele jeito de antes, com poucas palavras. Em negrito, autores que li bastante.

Don Delilo (não)
Antonio Lobo Antunes (como mencionado, espero que sim)
César Aira (seria incrível, espero que sim, mas é difícil)
A. B. Yehoshua (creio que há melhores autores israelenses)
Daniel Kahneman (esse aqui nem escritor de literatura é – ele ganhou o prêmio Nobel de economia anos atrás)
Ko Un (tem crescido nas apostas, mas creio que não)
Joyce Carol Oates (sem chance)
László Krasznahorkai (pode ser, mas espero que não)
Philip Roth (esqueça)
John Le Carre (aqui estão avacalhando)
Juan Marse (talvez, parece difícil)
Merethe Lindstrøm (acho que não)

Nobel de literatura 2017

Como é tradição por aqui (na frequência de “quando sinto vontade”), vou comentar sobre alguns autores que podem vir a ganhar o Nobel de literatura.

Anos atrás escrevi sobre isso e não só errei um tanto, como, vendo agora, noto que eu gostava de uns autores que atualmente não suporto mais.

Enfim.

Vamos começar vendo a lista de escritores que estão nas casas de apostas. Essas empresas raramente acertam de início, mas quanto mais se aproxima da entrega do prêmio, aquele que virá a ser o futuro vencedor sempre começa a cair nas apostas e, horas antes da premiação, está pagando perto de 1/1…

Desta lista, o que está em negrito eu li pelo menos 3 obras (geralmente bem mais), e os que não estão eu li pouco ou nada. Ao lado, um breve comentário.

Haruki Murakami (não mesmo)

Margaret Atwood (talvez num futuro distante, muito próximo da Alice Munro)

Amos Oz (pode ser)

Ngugi Wa Thiong’o (difícil, a qualidade de seus livros é baixa desde a década de 70)

Yan Lianke (parece difícil)

Claudio Magris (não)

Javier Marías (nope)

Adunis (não também)

Jon Fosse (interessante, mas admito que li pouco)

Ismail Kadaré (espero que sim)

David Grossman (creio que não, mas pode ser)

Tom Stoppard (não)

Dubravka Ugrešic (nunca li, mas parece interessante)

Tahar Ben Jelloun (nunca li; parece interessante, mas mais um escrevendo em francês?)

Adam Zagajewski (nunca li)

Karl Ove Knausgaard (esqueça)

Mia Couto (talentoso, mas meloso – embora eu fosse gostar)

Kamau Brathwaite (nunca li, mas creio ser difícil)

Salman Rushdie (uma pessoa importante, mas creio que não)

Desta vez não gastaram tempo colocando Philip Roth, Don De Lillo, Joyce Carol Oates – gente que obviamente não ganhará.

Fora esse nomes, eu gostaria de adicionar dois que eu gostaria muito se ganhassem – um bem possível: Antonio Lobo Antunes, e outro que corre por fora: César Aira.

E é isso por agora. Nos últimos anos a qualidade tem sido bem alta (embora eu fique assim pelo Modiano e pelo Le Clèzio, bons autores mas não tanto – talvez apenas um deles já estava de bom tamanho).

Bob Dylan e o Nobel de literatura

dylan-diploma

Houve uma comoção quando Dylan recebeu o Nobel de literatura. Muitos a favor, muitos contra… gostaria de apresentar alguns pontos aqui. Sei que os já convertidos a favor ou contra não irão mudar de ideia, mas sei que a maioria das pessoas não conhece bem nem Dylan nem o prêmio em si.

Primeiro, é de se notar que a maioria das críticas que fazem ao prêmio são sem sentido. No fim das contas, visto que o prêmio é subjetivo, qualquer laureado pode ser criticado. Mas vamos checar algumas críticas que fazem a Dylan:

Ele não escreveu nenhum livro. Mentira – ele escreveu dois, “Tarântula” e “Crônicas”, e suas letras são impressas em livro desde há muito tempo – a última versão tem mais de 600 páginas. Como exemplo, o dramaturgo Dario Fo, Nobel, também raramente escreveu alguma coisa – era sua esposa que transcrevia suas improvisações e as editava.

Ele não faz literatura. Mentira. Antes da literatura moderna, antes de Dostoievski, quase toda literatura era cantada e não publicada. As peças gregas e de Shakespeare não foram feitas para serem publicadas, mas realizadas em performance. Mesmo as obras do bardo só foram publicadas após sua morte. Claro que estamos falando de milênios em que a arte era passada oralmente. No todo, o que Bob Dylan faz está mais preso à tradição literária da humanidade do que um livro moderno de contos. E vale notar que antes dele outro músico já havia ganho o prêmio, o indiano Rabindranath Tagore.

Letra não é poesia. Não confere visto a questão anterior, mas de qualquer forma Dylan sempre escreveu as letras antes das músicas. Façamos uma hipótese: digamos que existam dois Dylans, o Bob e o Joe. Bob Dylan escreveu todas as letras e seu irmão Joe as musicava e saia em turnê. Ocasionalmente Bob fazia uma coletânea das letras e lançava em livros, inclusive com aquelas letras que seu irmão nunca musicou. Assim valeria o prêmio, então?

Ele é muito famoso. Isso não critério (também já vi críticos mencionando que ele é “outro branco”, “outro judeu”…), mas dois outros laureados, Llosa e Pamuk, criticaram isso. Dylan seria já muito rico e famoso e o prêmio deveria ir a autores mais obscuros (como de fato geralmente vai). O problema maior é que Llosa e Pamuk estão entres os autores que, antes de receberem o prêmio, já eram riquíssimos, famosos, um deles com conta em paraísos fiscais. Talvez eles devessem aceitar que outros deveriam ter vencido no lugar deles.

Suas letras não são boas/Havia letristas melhores. Bem, difícil alguém achar isso sem tê-las lido, visto que é o letrista mais influente do século XX. O pessoal cita Leonard Cohen ou Patti Smith ou Lou Reed como letristas “melhores”, mas tirando que Lou Reed já faleceu, Cohen e Reed e Smith sempre admitiram que Dylan é o maior de todos. Se um deles tivesse vencido, certamente argumentaria que Dylan que deveria ter ficado com o prêmio.

Blowin´in the Wind nem é tão boa assim. Discordo, mas mesmo que fosse duvido que algum fã de Dylan colocaria esta música como uma das 10 mais importantes, ou mesmo 100. A obra dele é gigantesca. Não vou escrever de uma em uma aqui, mas eu tenho na ponta da língua mais de 50 letras dele que considero maravilhosas.

Ok, está bom disso. Mas o que eu queria apontar é outro lado da questão. E os outros laureados, são tão incríveis assim? Vi gente argumentando que foi o “fim da Academia”, que foi um erro “eterno”, o que só pode ser dito por alguém que não leu os outros premiados. Pois há muita gente duvidosa.

Antes de mais nada vale mencionar que a obra de Dylan, ao contrário dos outros autores, está facilmente acessível a todos. Quando ganha um escritor francês ou chinês, dificilmente as pessoas (ou jornalistas) vão correndo comprar todos os livros do autor na língua original. Assim, se baseiam em outras críticas, no wikipedia… e não tem respaldo nem para criticar ou elogiar. Não podendo, preferem não criticar.

Mas a verdade é que muitos outros autores dificilmente seriam considerados os melhores em suas áreas, e de fato envelheceram muito mal – alguns anos após o prêmio já haviam dúvidas sobre seus méritos. Claro que isso também é subjetivo, e um autor mediano para um pode ser um grande autor para outro. Eu li pelo menos duas obras de todos os autores desde 1988 então vou me concentrar mais neles. Preciso repetir que o que vou escrever é subjetivo? Acho que chega disso…

Se pararmos para ver, muitos autores venceram o prêmio mais por serem boas pessoas do que por seus talentos puramente literários (Le Clézio, Gordimer, Kertész, Naipaul). Outros possuem um ou outro livro bom, mas uma obra no geral bastante curta (Kertész, Gao Xingjan). Alguns passaram a vida escrevendo sobre o mesmo tema, com livros que quase se repetem (Müller, Modiano). Alguns passando alguns anos do Nobel já nem eram considerados importantes na literatura mundial (Naipaul, Le Clézio, Xingjan, Jelinek) – ou nunca foram considerados antes.

A verdade é que a maioria dos autores premiados possuem livros muito ruins. Llosa tem alguns livros eróticos que são abismais… Jelinek tem alguns livros experimentais interessantes, mas leia Women as Lovers para ver uma literatura amadora, fraca, tola. Lessing era uma gigante, mas teve uma sequência de livros de ficção-científica que não funcionaram. Naipaul teve seu ápice, mas passou, dificilmente alguém o trataria hoje como um mestre das letras. Kertesz e Xingjan tem cada um um único livro fabuloso, e o resto é ok ou ruim.

Vejam que não menciono vários nomes, pois são autores mais consagrados e que até hoje são extremamente respeitados – Saramago, Coetzee, Oe, Grass, há várias escolhas que foram perfeitas. Outra gigante seria Toni Morrison, que inclusive gostou da escolha de Dylan para o Nobel.

Tirando essa questão – mesmo que Dylan não fosse o ápice do ápice da literatura, creio que ele supera facilmente em importância e talento pelo menos metade dos autores premiados nos últimos 30 anos (ou 1/4, que seja) não esqueçamos que o Nobel é dado de acordo com as sugestões que a Academia recebe de Universidades ao redor do mundo. Cada ano eles recebem uns 200 nomes, com explicações sobre porque o autor deveria receber o prêmio, leem toda a obra dele, etc.

Vejam que Dylan é nomeado por Universidades desde 1994. Sua influência acontece desde o início da década de 60, muito antes que a maioria dos premiados atuais tivesse sequer começado a escrever. Sua carreira não teve um ápice, ou uma única obra fantástica, mas inúmeros ápices e inúmeras obras-primas (sim, sei que soa contraditório, mas é coerente no caso de Dylan, pois ele é muito diverso). Ele é alguém que continuamente assombra pela qualidade, diversidade e importância. Todos os estilos norte-americanos foram explorados por ele, desde a cultura negra, indígena, judia, colonialista, desde o blues sulista até o jazz de Nova Iorque, com estilos que vão desde o mais experimental ao mais direto.

A grande verdade é que Dylan é um verdadeiro gigante, que influencia gerações há mais de 50 anos, que está além de poder ser medido com as réguas que se usa geralmente. Se alguém pegar qualquer um de seus 8 primeiros discos verá letras inspiradíssimas, complexas, diversas. Não adianta, de um músico com centenas de letras, ler três ou quatro e julgá-lo. Vendo o todo se nota sua versatilidade e originalidade.

Por fim, se olharmos para o outro lado – quem estava na lista de possíveis premiados ano passado – veremos que aqueles mais badalados não fariam jus a Dylan. Os dois poetas mais mencionados como merecedores – Adonis e Ko Un – não me parecem superiores a Dylan (já li bastante coisa deles) – não estão nem no mesmo nível. Ko Un é extremamente repetitivo, falando de reencarnação e karma (mas ainda é bom), e Adonis tem poesias bem medíocres, é um autor irregular. Outros autores mencionados – Murakami, Roth, Oates, DeLillo (outros que são extremamente populares) não me parecem tão incríveis e influentes. Ngugi Wa Thiong´o tem obras excelentes, mas desde a década de 70 ele só escreve ensaios ou livros medíocres (chequem Matigari). Claro que poderíamos argumentar que Lobo Antunes mereceria, e não vou negar. Aira e Mia Couto são bastante repetitivos também. Kadaré não escreve um grande livro há décadas. Banville, Atwood, Pynchon, Marias, Vila-Matas, Krasznahorkai , Oz, Rushdie, Magris, Farah, Goytisolo (qualquer um deles)… já li todos. E prefiro Dylan. Dylan realmente é mais hábil com as letras do que esses acima.

Em suma, qualquer lado que vejamos – Dylan por si só, ele ao lado dos outros premiados, e ele ao lado dos possíveis futuros premiados – está muito, muito bem. Vejam que se Dylan fosse um avião, desde 1962 só tem subido, subido… mesmo que muita gente não goste. Sua influência e importância só aumenta, independente do prêmio ou não. E vai continuar aumentando.

 

 

 

Notícias

Acho que é hora de algumas novidades…

Primeiro de tudo, em breve lançarei mais um livro infantil, intitulado “A aprendiz de alfaiate e o dragão”. Foi ilustrado pelo Heloísa Pintarelli, a mesma que ilustrou os dois livros do Tito.

Em breve teremos algumas imagens, data de lançamento, etc.

Na parte musical estamos finalizando o próximo disco de minha banda, a Sex Psych Love. E este mês irá sair internacionalmente uma coletânea que contará com duas músicas nossas: www.imperativemusic.com.br

Trabalhos variados

Raramente atualizo aqui, admito. Mas estou constantemente atualizando outros canais!

Na página do facebook do Tito, continuo postando fotos, falando de gatos, e de meu trabalho com os livros. Ano passado li as história do Tito e da Tuli para milhares de crianças, em várias escolas.

Estou com outros projetos com livros, que terão novidades em breve.

No blog Eu Gosto de Jogar comecei a escrever sobre quadrinhos, principalmente sobre os mal-feitos.

Um curta metragem que co-roteirizei girou o mundo e até ganhou alguns prêmios. Chama-se Entrevista de Emprego.

Na música, a banda Sex Psych Love está em um hiato, mas estou com outro projeto, com letras em português, que é muito interessante. Mais novidades em breve.

Anos atrás eu escrevia sobre Formula 1. Desde 2002 eu assistia às corridas com uma fidelidade absurda – chegando até mesmo a marcar viagens que eu fazia para não coincidir os horários. Mas nos últimos anos o espetáculo tem sido tão ruim, mas tão ruim, que chega. O ano passado foi abismal de ruim e não há como continuar me enganando. Chapéu para essa categoria.